O mercado do imobiliário comercial em Portugal registou em 2024 uma subida de preços de 4,7%, refletindo uma desaceleração face ao crescimento de 5,5% verificado em 2023. Esta evolução indica uma moderação no ritmo de valorização dos ativos comerciais, que incluem lojas, escritórios, armazéns, hotéis e outros espaços destinados a atividades económicas. O abrandamento dos preços do imobiliário comercial surge num contexto de maior prudência dos investidores e de ajustamento da procura, após anos de forte dinamismo no setor.

Desempenho dos preços do imobiliário comercial

O Índice de Preços das Propriedades Comerciais (IPPCom) é o principal indicador da evolução dos preços dos imóveis comerciais em Portugal. Em 2024, o IPPCom registou um crescimento anual de 4,7%, menos 0,8 pontos percentuais do que no ano anterior. Esta desaceleração acompanha uma tendência já observada em anos anteriores, em que o setor comercial tem crescido a um ritmo mais moderado do que o residencial.
 
A valorização dos imóveis comerciais é influenciada por diversos fatores, como a evolução da economia, as taxas de ocupação, a dinâmica do comércio e dos serviços, bem como a procura por espaços de escritórios e retalho em zonas urbanas e turísticas. Apesar da subida dos preços, o abrandamento reflete alguma cautela dos investidores face ao contexto económico e à necessidade de adaptação dos espaços comerciais a novas realidades, como o aumento do comércio eletrónico e a reconfiguração dos modelos de trabalho.

Comparação com o mercado habitacional

O contraste entre o desempenho do imobiliário comercial e o habitacional foi particularmente evidente em 2024. Enquanto os preços dos imóveis comerciais cresceram 4,7%, o Índice de Preços da Habitação (IPHab) aumentou 9,1%, praticamente o dobro. Esta diferença de 4,4 pontos percentuais evidencia que o mercado residencial continua a ser o principal motor de valorização imobiliária em Portugal.
 
A diferença entre os dois mercados ampliou-se em relação a 2023, quando a distância entre as taxas de crescimento era de apenas 1,7 pontos percentuais. O mercado habitacional beneficiou de uma procura muito elevada, tanto por parte de famílias como de investidores institucionais, impulsionando as transações e os preços para máximos históricos. Em contrapartida, o setor comercial mostrou-se mais resiliente, mas com um ritmo de crescimento mais contido, refletindo as incertezas e os desafios do contexto económico.

Dinâmica das transações e perfis de compradores

Em 2024, as famílias mantiveram-se como os principais compradores de imóveis habitacionais, com 134.540 transações, um aumento de 15,2% face ao ano anterior. Os restantes setores institucionais, como empresas, fundos e entidades públicas, realizaram 21.785 aquisições, um crescimento de 10,3%. Em valor, as vendas a famílias atingiram 28,7 mil milhões de euros, enquanto as transações institucionais somaram 5,1 mil milhões de euros.
 
No imobiliário comercial, a procura foi liderada por empresas e investidores institucionais, que continuam a ver neste segmento uma oportunidade de diversificação e de geração de rendimento, sobretudo em localizações estratégicas. No entanto, a maior seletividade dos investidores e a preferência por ativos de qualidade superior contribuíram para a moderação dos preços.

Fatores que influenciam os preços do imobiliário comercial

Vários fatores explicam o comportamento dos preços do imobiliário comercial em 2024:

Procura seletiva

Os investidores privilegiam ativos bem localizados, com contratos de arrendamento estáveis e potencial de valorização a longo prazo.

Adaptação ao digital

O crescimento do comércio eletrónico e as mudanças nos hábitos de consumo levaram à reconfiguração de espaços comerciais, com impacto na procura por lojas e centros comerciais tradicionais.

Mercado de escritórios

O teletrabalho e os modelos híbridos reduziram a procura por grandes espaços de escritórios, favorecendo soluções flexíveis e coworkings.

Turismo e hotelaria

O setor hoteleiro manteve-se dinâmico em zonas turísticas, mas com maior atenção à rentabilidade dos investimentos.

Condições económicas

O contexto macroeconómico, as taxas de juro e a inflação influenciaram as decisões de investimento e o apetite pelo risco.

Perspetivas para o mercado do imobiliário comercial

O abrandamento do crescimento dos preços do imobiliário comercial em 2024 pode traduzir-se numa maior estabilidade e num mercado mais equilibrado nos próximos anos. A procura por ativos de qualidade, a aposta na reabilitação urbana e a diversificação das utilizações dos espaços comerciais deverão continuar a marcar o setor. O contexto económico global, a evolução das taxas de juro e a recuperação da confiança dos investidores serão determinantes para a trajetória futura dos preços.
 
Por outro lado, o mercado habitacional deverá continuar a registar uma valorização mais acentuada, sustentada pela forte procura e pela escassez de oferta em algumas zonas do país. A diferença entre os ritmos de crescimento dos dois segmentos poderá manter-se, refletindo as especificidades e os desafios próprios de cada mercado.
 
Os preços do imobiliário comercial em Portugal subiram 4,7% em 2024, num movimento de desaceleração face ao ano anterior e claramente abaixo do crescimento registado no mercado habitacional. O setor comercial revela-se mais cauteloso, ajustando-se às novas exigências do mercado e às tendências de consumo, enquanto o segmento residencial continua a ser o principal motor de valorização imobiliária no país. O futuro dependerá da capacidade de adaptação dos agentes económicos e da evolução do contexto macroeconómico, num cenário de crescente seletividade e exigência por parte dos investidores.
 
 


Tags: Portugal, Lisboa


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